sexta-feira, 24 de abril de 2015

Bebel

Um dia cheguei em casa e ela estava lá, deitada na minha cama dormindo. Apenas levantou a cabeça, me olhou e perguntou -oi, tudo bem? Veio de algum mato perto da minha casa, subiu por muros e telhados até encontrar uma fresta no meu por onde entrou e entrava sempre que queria. Era uma gata de rua, e a chamei de Bebel por conta da personagem de Camila Pitanga numa novela desse tempo. Tínhamos nossos entendimentos. 

Eu sabia quando ela pedia ração, eu sabia quando ela pedia leite, eu sabia quando ela queria água que só bebia na minha mão em concha na torneira da pia. E ela sabia quando eu estava triste e então olhava nos meus com aqueles olhos verdes e doces - chora não... e dormia em cima de mim como para me proteger de toda tristeza. 

Quando ela chegou na minha casa e na minha vida era dia de São Francisco de Assis. Hoje quando cheguei em casa sua alma não estava mais no corpo. E lembrei seus olhos - chora não...  Sim Bebel, vou tentar. Agora você está comendo pela mão de um santo. 


Um comentário:

  1. Belo texto, perpassado de delicada tristeza e muita emoção.
    Chora não, Ana Terra, ela não está aí para confortá-la, mas deve estar fazendo isso de outro lugar.

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